As Fases do Trabalho de Parto


Gosto de pensar no parto como um momento de transição, pois ele promove diversas transformações. A mulher renascerá como mãe, o bebê enfrentará uma grande mudança e virá ao mundo, e a família irá se reconfigurar com a chegada de um novo ser.  Por isso, o parto é um portal, depois dele muitas coisas mudam!

Como disse no post anterior, ele é um processo e é importante que a gestante e o acompanhante reconheçam cada uma de suas etapas para vivênciá-las com calma e confiança.

Embora cada gestação é única, quando o processo de nascimento se inicia, toda mulher passará por quatro fases. Segundo as  Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal e a OMS, o trabalho de parto pode ser divido em três períodos, mas há profissionais que consideram um quarto período. 




  • Primeiro Período - Dilatação

Quando acontece o maior volume de contrações e o colo de útero afina e dilata até 10 cm. Pode durar desde algumas horas até dias. Esse primeiro estágio, conhecido como Período de Dilatação, pode ser divido em três fases:

- Fase Latente

Essa é a fase mais longa desse estágio. As contrações são suportáveis, espaçadas e não tão longas. É muito cedo para ir para a maternidade, por isso a mulher pode descansar, comer, tomar banho, fazer orações e se conectar com o companheiro.

Interações amorosas, abraços, beijos apaixonados e até mesmo uma relação sexual (se a bolsa ainda não tiver rompido) são positivas, pois liberam ocitocina, hormônio do prazer que que tem protagonismo no trabalho de parto. Além disso, o semên tem prostaglandina que ajuda o trabalho do colo de útero.

- há contrações uterinas dolorosas com intervalos de 7 à 5 minutos e duração de 30 à 45 segundos.
- Modificações cervicais: colo de útero amolece, centraliza, afina e dilate até 4 cm.

- Fase Ativa

Contrações mais intensas e frequentes. A mulher começa a sentir mais dor, fica mais introspectiva e precisa de apoio para caminhar, receber massagem e ficar em posições que aliviam a dor. A doula é muito importante nesse momento e a mulher pode seguir para a maternidade quando os intervalos das contrações for de 5 em 5 minutos.

Na fase ativa, o papel dos hormônios é essencial. A ocitocina estimula as contrações uterinas e é um analgésico natural, ela traz uma a sensação de bem-estar e prazer. Sua produção aumenta conforme o trabalho de parto evolui, assim, após cada contração ela é liberada e a mulher consegue relaxar.

É importante se conectar com esse movimento de contração e relaxamento e descansar a cada intervalo.

O bebê também está recebendo mensagens químicas que o preparam para o nascimento. Na hora do TP, ele passa a reabsorver o líquido amniótico presentes nos alvéolos pulmonares. É o que chamamos de amadurecimento dos pulmões e daí a importância de passar por esse momento.

- há contrações uterinas regulares e eficazes (provocam a descida do bebê) com intervalos de 3 a 5 minutos e duração de até 60 segundos.
- dilatação progressiva do colo de útero a partir dos 4 cm.

- Fase de Transição:

Essa fase é o final do período de dilatação e precede o expulsivo. A mulher está na "partolândia", introspectiva e conectada com sua fêmea interior.

A cabeça do bebê está adentrando o canal vaginal, a mulher sente uma pressão ("peso") na vagina e no períneo. É uma sensação nova e isso causa estranheza e medo em alugam mulheres.

Respira, agora é o momento de relaxar e se entregar para o trabalho de parto. Os hormônios já estão na frequência máxima e a mulher está conectada com sua parte instintiva.

Muitas mulheres pedem analgesia nessa fase, é normal e vai passar! É uma fase difícil mas ela passa. É o ápice da dor, ela não vai aumentar mais. O papel do acompanhante e da doula nesse momento é reforçar a confiança na capacidade da mulher de parir, apoiá-la e deixá-la a vontade e segura.

  • Segundo Período - Expulsivo

O período expulsivo tem início com a dilatação total do colo uterino (10 cm) e termina com a saída do bebê, podendo durar até duas horas para mulheres que nunca tiveram filhos.

O bebê passa pelo canal de parto e é "esprimido", esvaziando tudo que estava em seus pulmões e estômago. Ele e a mãe vão adaptar seus corpos para o nascimento, pois são feitos de forma que voltem ao normal depois. Os órgão reprodutores da mulher tem uma capacidade de elasticidade enorme e o bebê tem uma parte do crânio que não está fechada, a moleira, que permite que ele passe pelo canal.

Nesse momento, surge o desejo de a mulher fazer força, "fazer cocô". É importante não força-la a isso antes da vontade dela, pois seu corpo saberá quando é o momento. A saída do bebê é marcada por sensações novas, que a mulher nunca experienciou na vida até então.

A coroação do bebê, momento que a cabeça aparece do lado de fora, também é conhecido como "circulo de fogo" pela sensação de ardor e queimação. O ideal é relaxar e dar passagem ao bebê, uma boa técnica é vocalizar AH! pois relaxando a garganta você também relaxa a vagina.

  • Terceiro Período- Dequitação da placenta

Depois do nascimento, o bebê já está sobre o ventre da mãe. Esses momentos iniciais são uma fase sensível, chamada de "apego", é a primeira oportunidade da mãe ser sensibilizada pelo bebê.

Agora é o momento do descolamento e expulsão da placenta. O útero faz mais alguns movimentos, uma dor de cólica, e a placenta é parida. É importante que não fique nenhum pedacinho lá dentro.

  • Quarto Período ou Período de Greenberg

Esse estágio dura até uma hora após a dequitação da placenta. É um momento que demanda muita atenção à mulher pelo risco de hemorragia. O útero vai se contrair e interromper o sangramento, ele tampona os vasos e o sangue coagula. 

Além disso, esse é um momento muito importante para a conexão entre mãe e bebê que pode ser estimulada pela amamentação, o contato pele a pele. Um ambiente tranquilo, com luz baixa e silencioso colabora para que esse momento seja muito sensível.

Para saber mais:
Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal
O Quarto Período do Parto, UFRJ.

Fisiologia do Parto: Contratilidade Uterina e Períodos Clínicos do Parto, Profa. Dra. Emília Saito da USP.

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