Solta a voz! Vocalização durante o trabalho de parto

Na Grécia antiga,  há um história da deusa Baubo, uma deusa do sexualidade sagrada e da fertilidade. A descrição de Baubo me chamou muito atenção pois essa  fêmea não tinha nenhum tipo de cabeça, seus mamilos eram seus olhos e sua vulva era sua boca.

"Ver com os mamilos é sem dúvida uma qualidade sensorial. Os mamilos são órgãos psíquicos, sensíveis à temperatura, ao medo, à raiva, ao barulho. Eles são órgãos dos sentidos tanto quanto os olhos na cabeça.  Enquanto "falar com a vulva" trata-se simbolicamente de falar a partir da prima matéria, o nível mais básico e honesto da verdade - a boca vital." - p.385, Mulheres que Correm com Lobos de Clarissa Pinkola Estés.

Fonte: @fisiolah
Observando a anatomia da laringe e traqueia e da vagina e útero enxerguei uma outra dimensão da deusa Baubo, uma concretude real, física, anatômica da relação entre a boca e a vagina.

Além da musculatura ser parecida, elas possuem uma ligação! O trabalho muscular é em cadeia e todo o nosso corpo é conectada pelas fáscias, tecido conjuntivo que conecta tudo, da cabeça aos pés, envolvendo garganta, diafragma, pelve, vagina!

Assim, respirando amplamente, liberando a garganta, a mandíbula, relaxando a língua e soltando a voz, ajudamos a liberar e relaxar a pelve, deixando essa musculatura menos resistente. Ao abrirmos a boca e as pregas vocais abrimos outros anéis do corpo: ânus, vagina e colo do útero.

Ao vocalizarmos liberamos emoções, relaxamos e assim aumenta a produção de endorfinas. Um corpo relaxado sente menos dor e tem mais espaço. Esse processo auxilia no alívio da dor da contração e expande nossos canais.

Como soltar a voz?


  • Emitir sons graves durante as contrações,  como "aaaaaaaahh" ou "ooooooohh", com mandíbula relaxada, boca e glote abertas. Experimente fazer um som bem grave, como se ele tivesse saindo do seu ventre. 
  • Fazer movimentos com a língua, com mandíbula relaxada. 
  • Colocar a língua para fora, abrindo bem a boca. Uma careta mesmo!
Essas práticas ajudam a abrir o canal vaginal. Garganta e vagina vibram em conjunto, trabalham como um espelho.

Aqui no Brasil, muitas mulheres relatam terem sofrido algum tipo de violência durante o trabalho de parto, e entre os relatos está a repressão da vocalização e dos gemidos. Os profissionais da assistência hospitalar precisam expandir o olhar e enxergar as conexões do nosso corpo. Vocalizar é uma prática de alívio da dor, de entrega, relaxamento, confiança e poder!

Solte o som da leoa guardado dentro de você, mulher!


Fontes:

Relatos e escritos de mulheres que utilizaram a voz no parto (em espanhol)
Vocalização para alívio da dor durante o parto
Livro: Respirar, cantar e dar à luz Frederic Leboyer
Livro: Memoirs of a singing birth – Elena Skoko

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