Relato: Puerpério



Você acabou de gerar e dar vida a uma nova vida e esse processo exigiu muito de você e de seu bebê. 
Você literalmente deu seu sangue para que uma vida pudesse vir ao mundo. 
Seu corpo mudou. Sua mente mudou, sua idéias. Seu tempo mudou. Seus propósitos mudaram. Seus sentimentos , emoções e hormônios mudaram. Você passou por um trabalho de parto (que já é outra história) no qual sua energia foi de 0 à 100 em um tempo 'maluco'. 

E depois, de passar por tantas coisas você teve se bebê. Um momento mágico chegou em seu ápice. Ah! aqueles olinhos! Aquele rostinho, aquelas mãozinhas, aqueles dedinhos, aquele ser... que saiu de você! Como pode...? Que riqueza maior. Seu coração bateu de uma forma única. Seus olhos foram nascentes de um rio de lágrimas benzidas por mamãe oxum ao sentir essa nova vida em teu seio. Você sentiu amor, puro, genuíno. 
Vocês nasceram. 

E agora?

Você tem um ser, totalmente dependente de você. Do seu afeto, carinho, atenção, zelo, cuidado, presença. E você está em recuperação pós parto. Você tem pontos a serem cicatrizados. Você tem que entender tudo o que aconteceu e está acontecendo e irá acontecer! Você sente muitas dores. Muito sono. Seu corpo agora começa um processo de reorganização. Tudo vai voltando ao seu devido lugar mas isso leva tempo... e você precisa estar atenta duas vezes mais agora. 
Você é casa,comida, roupa lavada, passada e vestida. 
Você, agora, é MÃE.
Imagina essa mudança? Imagina como conciliar tanta informação? 
Vai do corpo à alma. 
E além...

Você não dorme. Você não come direito. Você não tem mais aquele tempo que você ainda achava que nem tinha. Você valoriza ele agora. Você valoriza cada minuto do seu tempo.Você valoriza cada gesto do seu bebê. Você valoriza cada comida que pode comer. Cada banho que pode tomar. Cada sorriso lindo que seu bebê dá e que te faz chorar de amor.
Você valoriza a vida.
E pasme: são só 24 dias de nova vida!

...

Você descobriu um instinto materno que nem sonhava em ter. 
Você já sabe cuidar, acarinhar, ninar, amamentar, dar colo, preocupar, não preocupar, ler os sinais de sua bebê. Mas, por precaução faz questão de ficar atenta a qualquer som ou gesto diferente... e quando menos percebe está pulando da cama cada vez que ouve um grunhido dela. 
Acaba adquirindo uma raiva mortal de pernilongo (se já tinha terá mais!). Mais precisamente do pernilongo que fez seu ataque irritante na madrugada perturbando o sono dos anjos dela. E o seu também.

Como já falamos sobre os hormônios... sim, você está rindo num dia e chorando no outro. É quase uma TPM alongada. 
Mas é muito pessoal, porque você não consegue se irritar com esse pequeno ser humano. Você se irrita com o barulho que alguém faz pra comer, mastigar. Mas não com o dela. Ou com um ronco infernal. Mas não com os grunhidos que cada dia parece ter uma nova sílaba (rs. é sério).

Fatos Reais...

Você descobriu no seu instinto materno que quer ficar S O Z I N H A com sua bebê. Pelo menos o primeiro mês e se possível até o 3º... Você sente isso na sua alma. E, até aí tudo bem. Primeiro porque não há problema algum nisso, muito pelo contrário, você tem o direito de agir da maneira que quiser. O tempo é de vocês! E é um tempo MUITO PRECIOSO. Tempo de mãe e filha. Tempo de mãe, pai e filha. Independentemente da relação que você tenha. É de extrema importância - e você sente muito isso, esse primeiro momento da nova família. 
Ela está adquirindo conhecimento de uma nova atmosfera... sentindo os seus próprios sentidos - que são bem aflorados e sensíveis... ela está aprendendo a conhecer a sua MÃE e seu PAI. Que som é esse? Que energia são essas? As vozes... os toques... as energias que só ela enxerga ao redor e dentro de vocês.
Mas... 
...as pessoas querem conhecer essa nova vida. A família quer esse momento sem falta! Você deixa vir a vó, o vô, as tias-avós, o tio-vô, o tio, o primo... mas aí mora um grande conflito: eles não entendem o mesmo que você. Ficar sozinha? como assim? Você não quer sua família por perto? oh! mundo cruel... é. Não é fácil de explicar... e mais difícil a aceitação deste fato.

Você se torna ' a chata ' da família - mais uma vez. 
Você é chata quando pede para falarem mais baixo. Quando pede para colocarem alcool nas mãos. Para não usarem perfumes fortes quando forem visitar. Para tirar acessórios como brincos, anéis, e afins. Você é chata quando você se expressa, quando você perde as estribeiras . Mas, você perde as estribeiras porque teve que falar mais de uma vez '' falem mais baixo, por favor!'' - Mas, você nem deveria pedir por isso! 
Ei, você A C A B O U de dar a luz, não faz nem um mês! 
Ei, estamos falando de um recém-nascido!
Ei, você está passando por dores físicas e emocionais que precisa de ajuda e não de julgamento.
Ei, você como um nova MULHER e como MÃE tem TODO o DIREITO de dizer como serão feitas s coisas, e não o contrário!
E é preciso haver R E S P E I T O.  S E N S I B I L I D A D E.  B O M S E N S O .  T A T O.  E N T E N D I M E N T O . A C E I T A Ç Ã O.  E S P A Ç O...
Você não está sendo chata. Você está agindo da maneira que acha que deve agora dentro de sua própria casa, cuidando e educando sua filha.
E isso não tem NADA a ver com o amor que exite entre vocês. Entre você e sua família. Por isso é preciso maturidade, é algo estranho que acontece, é que todos parecem virar crianças quando nasce um bebê! rs
Então...
...você por um instante se sente c u l p a d a por agir desta maneira. Porque eles não gostaram da forma que você falou. 
Os mais velhos querem muito dar sua opinião pois já viveram tal experiência. E é preciso sim ter ouvidos e respeitar a opinião delas (mãe, vó, tia...) mas, é preciso que também aconteça isso do outro lado. Pois os tempos são outros. Mas mais que isso, porque você sabe e também vai descobrir no dia-a-dia como deve agir. É preciso do erro para aprender. 
não...
...você não quer trancar sua filha numa bolha. Aliená-la da sociedade. Tirar o contato com sua família!
Você quer só e simplesmente, respeitar os seus primeiros meses de vida. 
E isso é tão pessoal. Cada um cria sua cria como acha correto.
''Tem gente que no primeiro dia após alta, levou seu bebê no shopping para conhecer os amigos da nova mamãe'' (isso foi uma pedagoga que trabalha na linha da antroposofia que constatou a mim) - eu acho isso loucura, mas, com certeza essa família nao achou. E é aí que moram as diferenças. E seja lá qual for sua forma de agir e educar sua cria, é preciso haver 
R E S P E I TO.

Nota: não se sinta culpada por dizer o que pensa e a forma como quer que sejam feitas as coisas;
pode estabelecer um horário para visitas;
não precisa sentir vergonha em pedir ajuda - e ajuda é de repente fazer uma comida, lavar uma louça ou uma roupa, ajudar nos afazeres da casa do dia-adia...para que você, MÃE, possa descansar e curtir seu bebê sem se preocupar um pouco - Isso é real e se chama ''REDE DE APOIO'';
você ama sua família, sua família ama você, então por mais que seja difícil no início, haverá entendimento, aceitação e respeito e não mais julgamento;
aprenda a ser sincera sem precisar se grosseira;
aprenda a pedir as coisas - se necessário, escreva;
não é momento de festas ainda, e o ideal é vir poucas pessoas em cada visita;
você está frágil, cansada, quer descasar e precisa ser compreendida;
durma cada minuto que puder, você está amamentando! e isso pede muito do seu organismo, muita energia é gasta neste período - você precisa se alimentar bem e ser cuidada para cuidar bem de sua bebê e se naõ for possível ter ajuda, se ajude, respeitando o seu tempo...beba muita água! você tem muita sede quando amamenta;
procure informações longe de hospitais também;
procure saber sobre o parto humanizado mesmo que não ele não aconteça;
sobre a antroposofia em relação a gravidez;

É muita coisa...
e pasme: são só 25 dias de nova vida!

Relato de Thays Sposito Beltrami

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