Querido pai, este texto é para você! #paternidadeativa
Imagem do fotógrafo Vladimir Bagrianski |
Querido pai,
este texto é para você!
Sua companheira pariu há poucos dias e você finalmente conheceu o seu bebê. Para você este é o início de uma conexão que para mãe já se iniciou há nove meses, pois para você, pai, a gravidez é externa e você ficou esse tempo todo do lado de fora, tentando entender esse vínculo, imaginando como é sentir ele dentro de você.
Eu sei, pai, esse processo também exige muito de você! Sua companheira está passando por um turbilhão de emoções que muitas vezes você não consegue compreender e isso a chateia. Você não reconhece mais a mulher que está ao seu lado e é como se você não tivesse mais lugar. O mundo não parou para que você pudesse aprender a criar esse bebê, conhecê-lo e nutri-lo. O trabalho continuou e a vida seguiu como antes, no mesmo ritmo, com as mesmas demandas.
Bem, respire fundo! Realmente as coisas mudaram. Sua mulher não é mais a mesma e nem ela sabe quem está se tornando, ela está exausta, se reconhecendo no papel de mãe, de provedora, aprendendo a cuidar e a amar o recém chegado. E também é verdade que no momento o bebê recebe muito mais atenção do que você, afinal ele depende emocional e fisicamente da mãe. Agora o momento é dos dois, mãe e bebê.
Muitas coisas serão solicitadas a você, mas eu peço que você reconheça que é um homem em um mundo masculino e por isso goza de certos privilégios e apoio social. Você não foi devastado depois do parto e não está lidando com feridas físicas e emocionais dessa ruptura, você manteve o seu espaço de identidade, sua posição social, seu trabalho, seus sonhos. Você manteve sua autonomia nos movimentos e na organização do próprio tempo. E o principal: você conservou seu tempo de lazer! Aqueles minutos de leitura, o futebol com os amigos, ou a simples possibilidade de tomar banho longo.
Esse é o momento de abandonar o espaço infantil e ser homem. De assumir um novo lugar! Um lugar que talvez você nunca tenha estado antes, um lugar silencioso, distante do protagonismo, mas que demanda uma atitude MUITO ATIVA. Você tem a missão de zelar pela tranquilidade, facilitar e defender a fusão mãe-bebê.
Isso significa que você terá de assumir as tarefas mundanas e materiais! Afazeres domésticos, atenção aos filhos maiores, organização do lar, administração do dinheiro, conflitos com outras pessoas... toda organização e administração da rotina doméstica. Também é de sua responsabilidade proteger o ninho e garantir privacidade e conforto. Como assim? Proporcionando que mãe e bebê disponham de silêncio e intimidade, provendo o alimento a tranquilidade.
Isso permite que a mulher possa se dedicar integralmente à sobrevivência da criança (amamentar, ninar, acalmar, higienizar e apoiar o recém-nascido) sem se ver obrigada a abandonar o mundo emocional em que está submersa.
Mas além dos aspectos práticos, querido pai, você é o apoio emocional! Por mais que você não compreenda o que está acontecendo, escute, acolha e nunca questione ou minimize o que a mãe está vivenciando. Ela precisa muito de um acompanhamento afetuoso, sem julgamento. Por essa razão, não questione suas decisões e intuições.
Esse não é tempo de discussão. É tempo de aceitação e observação. É tempo de contemplação sobre como as coisas acontecem.
Eu te desejo força, compreensão, tolerância e paciência <3
Por Julia Guadagnucci
Referência: "A maternidade e o encontro com a própria sombra" da Laura Gutman.
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